Tuesday, August 28, 2007

LIVRE EXPRESSÃO DA ORIENTAÇÃO SEXUAL

Fantasia ou realidade? - Ativistas do movimento pró-homosexualismo podem estar envolvidos com a pedofilia?

Lista de conversação dos ativistas do movimento pró-homossexualismo
Fonte: http://jaelsavelli.blogspot.com/

[Cmi-mulheres] repassando discussao - feminismo, diversidade sexual
isadoralins em riseup.net isadoralins em riseup.net
Sexta Abril 30 20:15:37 PDT 2004

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Estou repassando uma msg da lista gls pra cá. É uma discussao muito boa e
ilustrativa dos mais recentes embates dentro do movto. homossexual e
feminsita, e acho que o jargao academico tah traduzidinho o suficiente.
RECOMENDO LER DE BAIXO PRA CIMA.

aBRAÇO,
iSA.


Mensagem: 2
Data: Fri, 30 Apr 2004 05:00:54 -0300
De: "Regina Facchini"
Assunto: Re: Re: DIVERSIDADE SEXUAL - PEDÓFILO ASSASSINO p/ MOTT e
demais

(este email foi escrito em meio a uma conversa entre eu e Luiz Mott a
propósito de uma mensagem enviada por Leo Mendes à listagls, tomo a
liberdade de manda-lo com cópia para as listas do Grupo Diversidade e do
ENUDS - ambas listas de estudantes das quais participo - porque creio que
esta é uma discussão que não cairá como algo fora do contexto por lá)

Oi Mott e quem mais ler,

Cheguei do trabalho e estou sem sono, agora respondo melhor sua
mensagem.

Em seu email, vc fala de duas coisas que podem estar relacionadas na
prática de alguns militantes, mas teoricamente não são idênticas.

A primeira é como nomeamos nossa bandeira de luta: livre orientação
sexual, livre expressão sexual ou pela aceitação/garantia da diversidade
sexual. Nesse sentido, dizer qual a melhor delas não é tarefa de uma
antropóloga. Essa é uma questão política: queremos lutar pela livre
orientação sexual ou pela livre expressão ou para que as pessoas/sociedade
aceitem a existência e a legitimidade de uma diversidade sexual? Do ponto
de vista de conquistas jurídicas, provavelmente o mais interessante
seja usar orientação sexual, exatamente pelo fato de circunscrever
comportamentos sexuais a partir do sexo do objeto de desejo, deixando de fora
manifestações da sexualidade humana menos aceitas socialmente, e tb por
escapar à complexa tensão entre essencialismo (há uma essência para a
orientação sexual de origem genética ou desenvolvida em tenra infância,
que se manifesta de forma comparável em várias sociedades e épocas) e
construcionismo social (o desejo sexual seria construído na interação
entre sujeito e meio social, portanto, é produzido sócio-historicamente,
no interior de sociedades concretas e está intimamente relacionado com
outros aspectos dessas sociedades -essa definição é da antropóloga
Carole Vance - o que não implica a variação necessária ao longo da vida do
sujeito, nem a reversibilidade a partir de vontade racional), ou, pior,
entre condição e opção. No entanto, no sentido que vc confere ao termo
orientação sexual, ele já não se adequaria como bandeira de luta do
movimento GLT ou GLBT, simplesmente pelo fato de que incluimos travestis e
transexuais, que são manifestações da sexualidade que não se distinguem
pelo objeto do desejo sexual, mas por não se adequarem aos papéis
sociais atribuídos a alguém de seu sexo biológico de nascimento. Travestis e
transexuais não necessariamente são homossexuais em seus desejos e
práticas. Aliás, nesta semana, o Marcelo do Identidade me contava que as
travestis que frequentam/fazem parte de um projeto do grupo têm levantado
a questão de se, mesmo no caso de gostarem apenas de homens, essa
relação é hetero ou homo, já que a ambiguidade da travesti torna essa
definição complicada. Em termos de prevenção de HIV tudo bem, trata-se de
sexo entre dois corpos biologicamente/anatomicamente masculinos. Mas em
termos de relação social não é tão claro e a ambiguidade da travesti é
explorada aí. Lembro-me de um rapaz numa reunião do Espaço B que dizia:
"Eu gosto de mulheres e travestis." Travesti aí não é homem nem mulher
exatamente, e a relação com ela, nesse sentido, não é hetero nem homo.
Vale lembrar que travestis não são discriminadas apenas na medida em que
transam com gente do mesmo sexo biológico, mas por terem
corpos/aparências ambíguas em termos de gênero.

Pessoalmente, enquanto militante, não tenho claro se livre expressão
sexual ou diversidade sexual são realmente bons termos. Eles não têm sido
aplicados para finalidades jurídicas - garantia de direitos em lei.
Precisaria observar melhor, mas creio que tais termos têm tido mais uso no
sentido de produzir mudanças de mentalidade social por via
não-jurídica, como é o caso de grupos que atuam em universidades ou que
investem
fortemente num contato "comunitário". Do ponto de vista da ciência
política, sabe-se que independente de usar um termo mais amplo ou mais
circunscrito, dificilmente um pedófilo viria a público reivindicar seus
direitos ou que o movimento por diversidade sexual o defendesse,
simplesmente pq é bastante forte a idéia de que a pedofilia é algo
abominável na
nossa sociedade. Claro que termos mais abrangentes aumentam as chances
de crítica conservadora, mas isso é mais grave para ações na área
jurídica/legal. Um termo como diversidade sexual me parece ter por foco
combater a idéia de que há apenas uma sexualidade inteligível, a
heterossexual reprodutiva que estabelece famílas sólidas e relações
duradouras e
monogâmicas. Talvez a atuação por esse caminho nas universidades, que
são locais de formação de formadores de opinião, melhore as condições
para a luta jurídica/legal num futuro próximo.

A outra coisa que vc cita no seu email é como enunciamos o sujeito
político do movimento e toda a crítica à afirmação de identidades como
estratégia política. Com esse tema tenho mais intimidade teórica. Para
lidar com uma formulação teórica mais consistente e um objeto menos
complicado, é interessante olharmos para o movimento feminista. Primeiro,
falar em "o movimento feminista" não explica muita coisa. De qual feminismo
falamos? Pois são vários. Num livro que discutimos ainda esta semana no
curso de gênero na Unicamp - Antropología y feminismo, da antropóloga
feminista (não se trata de uma filósofa pós-estruturalista como Judith
Butler) Henrietta L. Moore - a autora diz que poderíamos tentar unificar
e definir "o feminismo" como consciência da opressão feminina e luta
contra ela. Isso pressupõe que: se deva tomar os interesses "da mulher"
como um corpo unitário; tomar como premissa da política feminista uma
identidade comum a todas as mulheres; e, que a coesão do movimento
depende da existência de "uma opressão" compartilhada pelas mulheres.
Parece-me que é assim que se posiciona tradicionalmente o movimento
homossexual ao atuar pela afirmação de identidades. A antropologia
feminista, que
a princípio se colocava como fazendo "antropologia da mulher" se viu
confrontando a própria possibilidade do fazer etnográfico - se os homens
eram androcêntricos, só a mulher poderia estudar a mulher e a
antropologia não poderia mais ser "o olhar para o outro nos termos do outro",
como ensinava Malinowski. E, por outro lado, "a mulher" seria tomada como
uma categoria universal, marcada por uma semelhança transcultural. A
partir da tentativa de superar esses problemas, surge a categoria gênero,
que se refere à forma de conhecimento cultural das diferenças sexuais,
que se volta não para homens e mulheres, mas para os significados e
valores culturalmente associados a masculinidade e femilidade. Claro que a
transposição pura e simples do termo gênero como sujeito político do
feminismo não é viável e, muitas vezes, ONGs que se dizem trabalhando com
gênero estão apenas mudando o nome do trabalho com mulheres para tentar
adequar-se a financiadores, o que é uma redução de sentido teórico do
termo. Mas a aplicação crítica desse termo à ação política feminista
gerou frutos interessantes: rompeu idéias como "a mulher", abrindo espaço
para a visão da diversidade interna constituinte do termo "mulher" e
questionou a legitimidade de que um grupo relativamente homogêneo de
mulheres - brancas, da classe média e heterossexuais - falasse por todas as
mulheres. Aí é que entram as reivindicações das mulheres negras e das
mulheres lésbicas, que passaram a questionar um feminismo incapaz de
alcançar e fazer frente às formas pelas quais vivenciavam a opressão.
Claro que, ao passo em que se problematiza a universalidade desse sujeito
político, a identidade comum e a idéia de "uma opressão" compartilhada,
se colocam novas dificuldades para uma ação feminista. No entanto,
cria-se a possibilidade de uma ação mais inclusiva e eficiente, no sentido
de se aproximar de expressões mais concretas e específicas de opressão.

A crítica à afirmação identitária toma por foco esse questionamento de
um sujeito político visto como universal e representado por uma
identidade do tipo "o homossexual". A tentativa de saída mais interessante
que
conheço para esse impasse é dada por Judith Butler - agora sim uma
pós-estruturalista, teórica dos queer studies, que toma Foucault como ponto
de partida e o ultrapassa - num texto chamado "Fundamentos
contingentes: o feminismo e a questão do 'pós-modernismo' ". Nesse texto,
ela se
afirma como filósofa pós-estruturalista e como feminista e tenta integrar
teoria e prática política. Para tanto, ela assume a necessidade de
sujeitos políticos claramente enunciados para a ação política, portanto a
categoria "mulheres" não deve ser descartada. No entanto, deve-se ter
claro o caráter aberto e inclusivo a ser atribuído a tal categoria, ou
seja, "mulher" deve se libertar de suas potencialidades racistas,
monoclassistas e heterossexistas e da associação exclusiva e necessária a
temas como maternidade, que assinalariam "a condição feminina". "Mulher"
deve ser operacionalizado, no cotidiano dos movimentos, como um termo
sempre aberto a novas inclusões, um sujeito político que reconhece sua
diversidade interna; e a luta feminista deve incorporar as demandas
colocadas por essa diversidade de vivências da opressão, uma vez que o termo
"mulher" não pode ser visto como tendo significado anterior às
vivências concretas, marcadas por condicionamentos sócio-históricos e por
diferenças de raça, idade, classe, sexualidade, etnia etc. Nesse sentido,
não precisa haver uma única identidade que aglutine as diversas formas de
opressão vivenciada pelas mulheres: alguém pode dizer-se "mulher
negra", outra, "mulher negra homossexual" e por aí vai. O sujeito político
"mulheres" não precisa pressupor uma identidade única, nem se voltar para
uma forma específica de opressão. No campo da sexualidade, uma das
possibilidades exploradas para se fazer isso tem sido afirmar-se como
movimento pela diversidade sexual ou pela livre expressão sexual, ou ainda -
fora do Brasil - como movimento queer, e enunciar sujeitos políticos
específicos apenas a partir de demandas formuladas acerca de casos
concretos. Mas essa é apenas uma tentativa de resolver esse dilema da
diversidade interna do sujeito político e das diferenças de vivências de
opressão. Isso não significa que seja correta ou que não deva ser olhada
criticamente e readequada.

É por conta dessas reflexões que tenho preferido falar que milito por
direitos sexuais e, dentro disso, pesquiso saúde e corporalidades de
mulheres com práticas não-heterossexuais. Afinal, as políticas não são
construídas para identidades, mas para sujeitos com vivências concretas,
que podem localizar-se no mundo a partir de diferentes formulações
identitárias. O que acredito produzir fazendo isso é uma reflexão que
colabore para uma eventual "política de saúde para mulheres lésbicas" que
possa estar adequada a sujeitos concretos.

Essa foi minha tentativa de pontapé teórico para um diálogo. Espero que
eu tenha sido minimamente inteligível, eu tentei.

Um abraço grande,

Regina


----- Original Message -----
From: "Regina"
To:
Sent: Friday, April 30, 2004 12:51 AM
Subject: Fwd: Re: DIVERSIDADE SEXUAL - PEDÓFILO ASSASSINO


--- Em listagls em yahoogrupos.com.br, "Regina" escreveu
Olá Mott,
Não tenho tempo de responder como se deve agora e creio que não há
apenas uma discussão teórica a ser feita e muito menos, ainda que
embasada teoricamente, uma construção a ser feita isoladamente.
Também não acredito que as duas estratégias que você citou sejam
mutuamente excludentes. Eu, por exemplo, sempre preferi a militância
em grupos mistos, mas jamais argumentaria pelo fim dos grupos
exclusivamente lésbicos. São duas estratégias diferentes que iluminam
diferentes problemas relacionados às mulheres não-hetero. Por isso me
assusta ver o tipo de associação que o Leo parece ter feito sair das
mãos de um militante e não de um inimigo do movimento. Não vejo
problemas no fato de que as duas estratégias coexistam, e acho que
para além de uma argumentação isolada teoricamente embasada, devíamos
reservar espaço num fórum do movimento para que militantes que
preferem qualquer uma das duas formas de lutar por direitos sexuais
possam expor aos outros os seus motivos, sem que se tenha por
objetivo obrigar nenhum dos lados a adotar a forma de nomeação que o
outro usa. Ainda que com isso - viajando ao máximo na maionese -
tivéssemos algo como dois movimentos distintos, isso não seria
problema, na medida em que poderiam ser movimentos estrategicamente
aliados em alguns momentos.
Acho realmente que o movimento homossexual (GLBT, GLT ou que nome se
queira dar) se pensa muito pouco e que a autoreflexão poderia ajudar
numa atuação mais consistente. Nem tudo é questão pra guerra. Ainda
que não seja o tipo de trabalho que eu faria, reconheço a coleta de
dados sobre assassinatos que vc faz como uma estratégia absolutamente
genial para vencer a invisibilidade da violência contra homossexuais.
O ideal seria, é claro, que esse diálogo entre diferentes posições
pudesse contribuir para gerar uma terceira mais consistente ou para
fortalecer cada uma das duas.
Claro que posso dar um pontapé num debate dando alguns argumentos
teóricos a serem debatidos nesse assunto. Mas o trabalho que vc me
pede seria digno de uma tese de doutorado - e eu já estou fazendo uma
e sem bolsa, além de tudo *risos - e creio que essa reflexão pode -
ou só pode - ser construida coletivamente.
Agradeço seu incentivo ao diálogo.
Abraços,
Regina


--- Em listagls em yahoogrupos.com.br, Luiz Mott escreveu
> regiina
> como vai querida?
> otimo teu questionamento, pois assim voce poderia iniciar uma
discussão
> teórica,
> já que és mestra em antropologia, a respeito do termo DIVERSIDADE
SEXUAL.
> Sugiro também que
> se quiseres e puderes, faça o papel de advogada de defesa do termo
LIVRE
> EXPRESSÃO SEXUAL,
> ambos termos usados por alguns universitários pos-modernos e até
por gays,
> com todo respeito,
> que não aprofundaram teoricamente tais termos. Há quem considere
equivocada
> a afirmação indentitária translesbigay
> e preferem Diversidade e Livre Expressão em vez de ORIENTAÇÃO
SEXUAL, este
> sim, termo cientificamente conceituado e legalmente reconhecido
> pelas constituições e leis organicas de centenas de localidades no
Brasil e
> exterior.
> Creio que Leo, sempre tão arguto e "agent provocateur", quiz chamar
a
> atenção para tal polemica
> ao associar diversidade sexual a pedofilia - que no meu entender,
é
> perfeitamente associável, pois
> diferentemetne de ORIENTAÇÃO SEXUAL, que inclui apenas Homo, Hetero
e
> Bissexualidade,
> a Diversidade e a LIvre Expressão sexual incluem todas
manifestações
> libidionosas, inclusive
> as anti-sociais e ilegais. Estou aberto a discussão e
dialeticamente, a
> mudar de ponto de vista,
> desde que os argumentos sejam sólidos e convincentes, de
preferencia, com
> embasamento bibliográfico.
> Está lançada a sugestão. Conto contigo.
> Abraço amigo, Luiz Mott
>
>
> At 15:02 29/4/2004 +0000, you wrote:
> >Desculpe, Leo, mas não entendi... Você quis estabelecer alguma
> >relação entre os dois temas no título de sua mensagem? Se sim,
qual a
> >relação?
> >Regina
> >
> >--- Em listagls em yahoogrupos.com.br, Leo Mendes
> >escreveu
> > > Jornal O Popular
> > > 27.04.2004
> > >
> > > C
> > >
> > > ONFISSÃO
> > > Mecânico diz ter matado 12 meninos
> > > São Paulo ­ O mecânico de bicicletas Francisco das Chagas
Rodrigues
> >Brito, de 34 anos, disse em depoimento à Polícia Civil do Maranhão
> >ter sido o autor da morte de 12 meninos emasculados no município de
> >Altamira (PA). A informação foi divulgada ontem pelo gerente de
> >Segurança Pública do Maranhão, Raimundo Cutrim. Os crimes em
Altamira
> >ocorreram entre 1989 e 1993. Nove meninos entre 8 e 14 anos foram
> >emasculados, sendo que seis deles foram mortos. Outras seis
crianças
> >estão desaparecidas. Cinco desses casos foram a julgamento no ano
> >passado e quatro pessoas foram condenadas. Os envolvidos nos crimes
> >supostamente participavam da seita Lineamento Universal Superior,
que
> >seria liderada por Valentina Andrade, também julgada e absolvida.
> >(Agência Folha
> > >
> > >
> > >
> > > Léo Mendes
> > > (62) 925 -8355
> > > Sec. Adjunto Ilga-Lac Brasil
> > > Tesoureiro ABGLT
> > > Presidente da AGLT
> > >
>
> LUIZ MOTT
> Cx.Postal 2552 - 40022.260, Salvador, Bahia
> Fone/Fax: (71) 328.3782 - 328.2262 - 9989.4748
> www.luizmott.cjb.net www.ggb.org.br
>
> Per scientiam and justitiam.
>
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