Tuesday, March 27, 2007

Já nos avisava o falecido recente Jean Baudrilard, em seus escritos: movimento feministta está junto com o pro-homossedualismo e também o da revolução científica.

De: 22 a 28 de outubro de 2006

SUCESSÃO PRESIDENCIAL

Se o petista for reeleito, tirar a vida de um bebê deixará de ser crime — mas criticar a conduta de um travesti pode dar cadeia

Lula esconde dos eleitores que a implantação do aborto é uma das principais políticas públicas de seu governo, perdendo apenas para a santificação do homossexualismo.

Em seu programa com vistas à reeleição, o presidente petista propõe “a descriminalização do aborto e a criminalização da homofobia”.

Ou seja, tirar a vida de um bebê deixará de ser crime; mas criticar a conduta de um travesti passará a sê-lo.

Trata-se de mais uma inversão de valores promovida pela esquerda. Totalitariamente, o PT vem tentando calar seus críticos, como o padre Luiz Carlos Lodi e o jornalista Arnaldo Jabor, marcando a principal diferença entre Lula e Alckmin.

[ http://www.jornalopcao.com.br/index.asp?idjornal=208&subsecao=OJornal ]

De: 22 a 28 de outubro de 2006

SUCESSÃO PRESIDENCIAL

REELEIÇÃO DE LULA
O silêncio dos inocentes Visceralmente contra a prisão perpétua para latrocidas, o programa de governo do presidente Lula propõe a pena de morte para crianças — em seu segundo mandato, o PT quer aprovar o aborto JOSÉ MARIA E SILVA Originário do grego -ismós, através do latim -ismus, o sufixo -ismo incorporou-se há séculos na língua portuguesa, sobretudo como formador de palavras a partir de verbos. Posteriormente, seria muito utilizado na medicina, como na palavra trismo (constrição da mandíbula), registrada, na língua portuguesa, desde 1695. Nos séculos XIX e XX, segundo o dicionário Houaiss, “seu uso se disseminou para designar movimentos sociais, ideológicos, políticos, opinativos, religiosos e personativos”. Capitalismo, liberalismo, socialismo e marxismo são exemplos de palavras formadas com o sufixo -ismo a partir dos substantivos capital, liberal, social e Marx. Segundo o Houaiss, “potencialmente há para cada nome próprio um seu derivado em -ismo”. O queremismo, movimento que pedia a volta de Getúlio Vargas em 1950, é uma prova dessa plasticidade do sufixo -ismo, que pode formar, por exemplo, os termos lulismo e alckmismo, como indicadores dos respectivos movimentos que visam à vitória de Lula ou de Alckmin nas eleições deste ano. A única palavra da língua portuguesa que está legalmente proibida de juntar-se ao sufixo -ismo para formar outra é a palavra aborto. O termo abortista, que resultaria dessa junção, foi praticamente banido da língua portuguesa pela Justiça. No dia 16 de agosto de 2005, a 1ª Turma Recursal dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais do Distrito Federal condenou o padre Luiz Carlos Lodi da Cruz, do Movimento Pró-Vida de Anápolis, pelo uso da palavra abortista para designar quem defende o aborto. A ação contra o padre Lodi foi movida pela antropóloga Débora Diniz, doutora em antropologia pela UnB e pós-doutora pela Universidade de Leeds, na Inglaterra. No sítio do Movimento Pró-Vida, o padre chamou Débora Diniz de “antropóloga abortista”, num texto em que também era estampada a foto da professora. Ofendida com as críticas do padre, ela recorreu à Justiça e venceu a demanda tanto na primeira quanto na segunda instância, obtendo uma indenização de 4,5 mil reais por danos morais. Mas os dissabores do padre Lodi com a Justiça não pararam aí. No dia 6 de março deste ano, a luta contra o aborto rendeu-lhe outra condenação por danos morais, desta vez num processo movido pelo promotor Diaulas Costa Ribeiro, que atua na Promotoria de Defesa dos Usuários do Serviço de Saúde do Distrito Federal. Como o promotor vinha atuando em defesa do aborto de anencéfalos na rede pública de saúde, o padre Luiz Carlos Lodi veiculou artigos na Internet em que o comparava a Hitler. Diaulas Ribeiro sentiu-se ofendido em sua honra e, a exemplo de Débora Diniz, obteve uma indenização de 4,5 mil reais por danos morais, numa decisão proferida também pela 1ª Turma Recursal dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais do Distrito Federal. Incapazes de sustentar publicamente a defesa do aborto, os abortistas descobriram na Justiça uma forma de calar seus adversários. No Rio de Janeiro, a deputada Jandira Feghali, do PC do B, que estava com a eleição praticamente ganha na disputa para o Senado, com o apoio do PT, acabou sendo derrotada por Francisco Dornelles, do PP, por 612 mil votos de diferença. (Ele teve mais de 3,3 milhões de votos.) Ela atribui a derrota à campanha que os católicos promoveram nas paróquias do Rio de Janeiro, divulgando o seu trabalho parlamentar em defesa da descriminalização do aborto. Relatora do projeto de lei que trata da “interrupção voluntária da gravidez” (eufemismo adotado pelos abortistas), Jandira Feghali apresentou, em 1º de agosto de 2005, na Câmara dos Deputados, um substitutivo que aprova o aborto até a 12ª semana de gestação, desde que ele seja realizado por médico e com o consentimento da gestante. A “Lei do Aborto” — como o projeto deveria ser chamado pela imprensa e pela própria Jandira Feghali — também prevê a “interrupção voluntária da gravidez” até a 12ª semana de gestação, no caso de gravidez decorrente de “crime contra a liberdade sexual”. Nos casos em que a gestante corre risco de vida, o projeto não estabelece limite para a realização do aborto, ficando a decisão a critério médico. O Movimento em Defesa da Vida, uma entidade católica que luta contra o aborto, resolveu mostrar aos cariocas o trabalho desenvolvido por Jandira Feghali na Câmara dos Deputados. Durante a campanha eleitoral, a entidade distribuiu nas paróquias do Estado do Rio panfletos em que informava aos católicos que Feghali é “abortista”, isto é, defende o aborto. Indignada, a candidata ao Senado pelo PC do B entrou na Justiça pedindo a apreensão dos panfletos. O desembargador Luiz Felipe Francisco acatou a representação e expediu um mandado de busca e apreensão na Arquidiocese do Rio Janeiro. Nem o gabinete do cardeal Dom Eusébio Scheid, escapou da devassa, executada no dia 21 de setembro. No domingo seguinte, 24 de setembro, numa nota oficial que foi lida na missa de todas as paróquias do Estado, a Arquidiocese protestou contra a medida, citando nominalmente Jandira Feghali. A deputada comunista não se deu por vencida e recorreu novamente à Justiça. Mais uma vez, o desembargador Luiz Felipe Francisco acolheu a representação e determinou ao arcebispo e demais párocos que se abstivessem de fazer qualquer comentário político durante as celebrações. Felizmente, no mesmo dia, o TRE revogou a decisão do magistrado, entendendo que se tratava de censura prévia, vetada pela Constituição. Por que a deputada Jandira Feghali, o promotor Diaulas Ribeiro e a antropóloga Débora Diniz não admitem ser chamados de “abortistas” e recorrem à Justiça quando são identificados desta forma? Porque, como a maioria dos defensores do aborto, eles sabem que a defesa da total autonomia da mulher sobre seu corpo — mesmo estando grávida — não é aceita pela grande maioria da sociedade. Daí que todo abortista faça questão de dizer: “Oh! Eu, pessoalmente, sou contra o aborto! Apenas sou a favor de sua descriminalização”. Foi o que fez o presidente Lula ao responder, por escrito, a uma pergunta do jornal O Globo, no dia 27 de agosto deste ano: “Aborto no Brasil é caso de saúde pública. Pessoalmente, como cristão, sou contra. Mas encaminhei a discussão para o Congresso e a sociedade debaterem e discutirem em que circunstâncias ele é admissível”. Ora, trata-se de um mero jogo de palavras de Lula, que apenas serve para esconder a incongruência da esquerda — ferrenha adversária da pena de morte, mas aguerrida defensora do aborto. Para os marxistas, o Estado não pode matar um assassino serial, mesmo que ele seja a pior criatura que já habitou o mundo; entretanto, uma mãe pode matar o seu filho inocente, bastando que não se sinta em condições de criá-lo. Quem duvida que essa moral contraditória é intrínseca ao pensamento de esquerda, leia o programa de governo do presidente Lula. Visceralmente contra a prisão perpétua para latrocidas, pistoleiros e estupradores, o programa de governo de Lula propõe a pena de morte para crianças — se eleito, o petista quer descriminalizar completamente o aborto no país. O padre Luiz Carlos Lodi da Cruz tem toda razão — Lula e o PT são abortistas. Não há outra palavra na língua para defini-los, a não ser que a Justiça brasileira — cada vez mais esquerdista — esteja pensando em impor ao restante do país, por meio da jurisprudência, a novilíngua orwelliana que a esquerda já impôs nas escolas. Defender a liberação do aborto do ponto de vista legal e se recusar a ser chamado de abortista, sob o pretexto de não desejá-lo na prática, é um atestado de menoridade cognitiva, uma covardia mental, típica da pusilânime intelectualidade brasileira, que Lula aprendeu a repetir psitacideamente. A rigor, não existe na face da terra ninguém que seja a favor do aborto. Todo mundo, sem exceção, é — pessoalmente — contra o aborto. A única pessoa no mundo que parece ficar grávida apenas pelo desejo de abortar é a Re Bordosa, mas ela só existe virtualmente, como personagem de história em quadrinhos, criada por Angeli. Alguém pode ser contrário ou favorável à extração de dentes? É-se, obviamente, a favor da prevenção da cárie. Mesmo uma mulher que já fez meia dúzia de abortos, não os fez por gosto, mas porque, devido à fraqueza própria ou a contingências exteriores, não conseguiu evitar a gravidez. Ninguém deseja o aborto para si ou para outrem. A não ser que seja uma mulher absurdamente masoquista ou um homem medonhamente sádico. O que passa a ser um caso clínico. Independentemente de qualquer valor moral, o aborto é ruim — dói, sangra, incomoda o organismo. Logo, quando se diz que alguém é a favor do aborto, não se está dizendo que esse alguém acha o ato de abortar prazeroso e que pretende induzir outras pessoas a praticá-lo. Quando se diz que “fulano é contra o aborto” e “sicrano é a favor”, o que se quer dizer é que cada um deles assume uma posição pública acerca da conduta que a sociedade deve adotar em relação ao problema. Assim como defender a aprovação da pena de morte não faz de alguém um assassino, defender a legalização do aborto não faz de ninguém um aborteiro (que faz aborto) e, sim, um abortista (que o defende). Portanto, nenhum defensor do aborto deveria achar ruim ser chamado de abortista, porque não existe outra palavra em língua portuguesa para designá-lo. (Em que pese a palavra não constar como verbete nos dicionários Caldas Aulete, Aurélio e Houaiss, possivelmente por uma questão ideológica, no caso dos dois últimos. Os dicionários de espanhol, língua-irmã do português, trazem o verbete abortista, com o significado de quem é favorável à legalização do aborto.) Mas nem só a antropóloga Débora Diniz, o promotor Diaulas Ribeiro e a deputada Jandira Feghali renegam a qualificação de abortistas. Também o presidente Lula esconde dos eleitores que a implantação do aborto — amplo, geral e irrestrito — é uma das principais políticas públicas de seu governo na área comportamental, perdendo apenas para a santificação do homossexualismo. O Programa de Governo 2007-2010 de Lula é dividido entre uma parte geral (diretriz de todas as outras) e 16 partes setoriais, que tratam de agricultura e transporte a jovens e homossexuais. A proposta de legalização do aborto não aparece na parte geral do programa e, sim, num dos programas setoriais, o Programa Setorial de Mulheres. Diz o programa de Lula: “O segundo Governo deve consolidar e avançar na implementação de políticas afirmativas e de combate aos preconceitos, à discriminação, ao machismo, racismo e homofobia. As políticas de igualdade racial e de gênero e de promoção dos direitos e cidadania de gays, lésbicas, travestis, transexuais e bissexuais receberão mais recursos. (...) O Governo Federal se empenhará na agenda legislativa que contemple as demandas desses segmentos da sociedade, como o Estatuto da Igualdade Racial, a descriminalização do aborto e a criminalização da homofobia” [grifo meu]. Ou seja, mais uma inversão de valores promovida pela esquerda: tirar a vida de um bebê deixará de ser crime; criticar a conduta de um travesti passará a sê-lo. Em vez de fazer campanha para prefeito de Pindamonhangaba, discutindo a política do “Bom Prato”, Geraldo Alckmin deveria pôr o governo Lula em pratos limpos, obrigando o seu adversário a falar sobre três temas que o incomodam muito: o Foro de São Paulo (órgão que liga o PT às Farc de Manuel “Tirofijo” Marulanda e Fernandinho Beira-Mar); Santo André (o Triângulo das Bermudas petista, que consome cadáveres, entre eles o de Celso Daniel, Vladimir Herzog de Lula); e o totalitarismo esquerdista (característica essencial do PT, que o aproxima do Partido dos Trabalhadores alemão de Hitler). A defesa que o PT e Lula fazem da legalização do aborto é uma prova do totalitarismo esquerdista. Não tanto pelo conteúdo da proposta, mas pela forma como é feita — às escondidas, impedindo a sociedade de discutir o assunto. A esquerda trata o aborto como uma simples questão ginecológica, como se o feto não passasse de um ciclo menstrual desregulado. Prova disso é que, já no primeiro governo Lula, o Ministério da Saúde, sob o comando de Humberto Costa, tentou impor ao país várias políticas pró-aborto, como o incentivo ao uso da pílula do dia seguinte, que, mesmo não sendo abortiva (como os católicos afirmam que é), psicologicamente induz os casais ao sexo irresponsável e tende a preparar a mulher para aceitar o aborto. O programa de governo de Lula, repetindo uma tese essencial de todos os partidos de esquerda, sustenta que a mulher deve ter total autonomia sobre seu corpo, cabendo-lhe — exclusivamente — a decisão de abortar ou não. Essa tese é quase unânime entre os intelectuais, como a professora Débora Diniz, que processou o padre Luiz Carlos Lodi por chamá-la de “antropóloga abortista”. Aliás, ao defendê-lo com unhas e dentes, os partidários do aborto dão total razão ao padre Lodi, que, ironicamente, costuma observar: “Para os abortistas, o corpo humano se divide em: cabeça, tronco, membros e criança”. O aborto, como tudo o que diz respeito diretamente à vida, jamais pode ser uma questão de foro íntimo, entregue exclusivamente às deliberações do indivíduo. A sociedade, por meio de suas instituições, tem não apenas o direito, mas o dever de discuti-lo. O aborto não é meramente uma “interrupção voluntária da gravidez”, como dizem, eufemisticamente, os abortistas — é também uma “interrupção voluntária da vida”. Saber se essa “interrupção voluntária da vida” é crime ou não, é moral ou não, é justa ou não — eis a tarefa que compete à sociedade, incluindo, obviamente, os religiosos, que fazem parte dela.

Nenhuma coletividade humana que proclama o valor da vida pode admitir que seus membros saiam matando quem quer que seja sem dar satisfações a ninguém. Todas as culturas, antigas e modernas, regulamentaram, de um modo ou de outro, o ato de matar. Por isso, o Estado e as religiões, que por bem ou por mal são representantes das coletividades humanas que os engendram, têm não só o direito, mas até o dever, de opinarem sobre questões como aborto, eutanásia, pena de morte e células-tronco, para citar alguns exemplos. Quando Lula afirmou ao jornal O Globo que, mesmo sendo contra o aborto, resolveu colocá-lo em discussão na sociedade, ele omite um fato — a sociedade em si é inerte e só existe, de fato, através de seus movimentos organizados, todos eles de esquerda e, majoritariamente, abortistas. No ano passado, o governo Lula criou uma comissão tripartite para revisar a legislação relativa ao aborto, e a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, sob o comando da ministra Nilcéia Freire, promoveu cinco audiências públicas para tratar do assunto, com o apoio da ONU, que também professa a causa abortista. Mas não houve debate, porque todos os palestrantes convidados pelo governo — juristas, médicos e sociólogos — professavam um pensamento único — a defesa irrestrita do aborto. O assessor adjunto da Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e a Família da CNBB, José Maria da Costa (que participou dos encontros por iniciativa própria, uma vez que entidades contrárias ao aborto não foram convidadas), observou que os defensores da legalização do aborto irão sustentar sua luta em dois pontos: a tese de que aborto é questão de saúde pública e a tese de que a mulher deve ter total autonomia sobre seu corpo. Em artigo publicado no sítio da CNBB, Costa observa: “Pretendem fazer pressão sobre os Três Poderes da República, com destaque para o Poder Judiciário, visto como o foco privilegiado da luta abortista pelo fato de que, na visão deles, é o mais laico e progressista. Irão fazê-lo legislar”. Ou seja, mais grave do que defender a legalização do aborto — que, em determinadas circunstâncias, pode ser admissível e até desejável — é o modo como o governo Lula quer impô-lo ao país — de cima para baixo, sem discussão, sob a camuflagem de uma linguagem falsamente científica. A exemplo do que já ocorre com a pena de morte, a prisão perpétua e a maioridade penal, a elite intelectual do país — que tanto fala em democracia — simplesmente alija a população do debate desses temas, porque sabe que a esmagadora maioria dos brasileiros é a favor da pena de morte, da prisão perpétua e da redução da maioridade penal. No caso do aborto, pesquisa realizada pelo Ibope, em fevereiro do ano passado, mostrou que apenas 3 por cento (pasmem: 3 por cento) da população brasileira entende que abortar é uma decisão que compete exclusivamente à própria mulher, como pensam os esquerdistas. O povo brasileiro ainda tem algum bom senso. O que o estraga é sua elite intelectual. Aliás, se a elite de doutores uspianos e seus discípulos pelo país afora não tivessem defendido sistematicamente o atual governo, Lula já teria sofrido impedimento e o PT teria sido extinto — para o bem da democracia brasileira. Na cabeça dos esquerdistas (que são hegemônicos no ensino superior há pelo menos 30 anos e, conseqüentemente, formaram toda a elite política do país), a defesa do aborto é logomarca de progresso; sua condenação é sintoma de atraso. É o que também pensam muitos promotores e juízes pelo país afora, especialmente os mais jovens, já formados nas teses de esquerda. Exemplo disso são as duas sentenças da Justiça do Distrito Federal contra o padre Luiz Carlos Lodi da Cruz. Na ação movida pela antropóloga Débora Diniz, o desembargador Teófilo Rodrigues Caetano Neto, que atuou como juiz-relator, sustenta que o padre usou indevidamente a imagem da professora e ofendeu sua honra ao qualificá-la como “antropóloga abortista”. Pelo que se depreende do voto do juiz, ele considera abortista como sinônimo de aborteira, confusão que cai por terra numa simples consulta aos sufixos -ismo e -eiro no dicionário Houaiss. O juiz também observa que Débora Diniz defende o aborto no caso de anomalia fetal e não indiscriminadamente, como sugere o epíteto empregado pelo padre do Movimento Pró-Vida de Anápolis. Ora, Débora Diniz — como quase todos os intelectuais de ciências humanas — defende que a lei garanta à mulher total autonomia sobre seu próprio corpo, como fica muito claro em seus artigos e entrevistas. Na prática, isso é o mesmo que defender o aborto indiscriminado — o que faculta ao padre Luiz Carlos Lodi utilizar-se do epíteto “antropóloga abortista” para qualificá-la. Extrapolando do seu papel de juiz para o de advogado de defesa da parte ofendida, Teófilo Rodrigues Caetano Filho quer, literalmente, ensinar padre-nosso a vigário e chega a afirmar que o padre Luiz Carlos Lodi “deveria pautar sua atuação pelos princípios que permeiam a doutrina cristã, notadamente a tolerância, o respeito e amor ao próximo”. Ora, senhor juiz, se o senhor de fato respeita a liberdade de expressão das partes litigantes, como afirma em seu voto, então há de entender que a ira do padre contra a antropóloga é perfeitamente justificável. Para os cristãos, o feto é uma criação divina e tem alma. Já é um ser humano desde o momento em que foi concebido — o que também é o entendimento da Constituição brasileira. Portanto, é exatamente por nortear-se pela doutrina cristã que o padre vergasta a antropóloga. Ele sabe que não é dado a ninguém ser tolerante, respeitoso e amoroso com a vítima e o carrasco ao mesmo tempo. Entre dois valores que se excluem mutuamente, não há como ser moderado, é preciso escolher. Padre Lodi faz a escolha que Jesus Cristo faria: tolera a vidazinha do feto; respeita sua humanidade; ama o próximo que brota nele — o que o obriga a ser intolerante com os que querem abortá-lo. Ou será que foram em vão as célebres palavras de Jesus: “Vinde a mim as criancinhas, porque delas é o Reino dos Céus”? O próprio Cristo dizia a seus discípulos: “Quente ou frio. Morno eu te vomito”. A tolerância com a defesa do aborto é um pacto com a condenação da vida.

Todavia, mesmo que o padre Lodi tenha sido intolerante com Débora Diniz, ela bem merece esse tratamento. Tolerância com a insipiência basta a que o Brasil já dispensa a Lula. Numa entrevista concedida à Assessoria de Comunicação da UnB, em 20 de julho de 2004, depois de defender o aborto no caso de anencéfalos, a antropóloga Débora Diniz viu-se diante da pergunta: “Você é a favor da legalização do aborto em qualquer situação?” Ela deixou claro: “Sou a favor que as pessoas tomem suas decisões livremente. O mais importante é a profundidade do caráter laico do Estado em que vivemos. Um estado laico não pode legislar sobre isso. Constitucionalmente, o Brasil é um estado laico, não há religião oficial. Por isso, não é possível defender a ilegalidade do aborto em um estado laico”. Sua resposta é extremamente grave para uma antropóloga. Revela um materialismo tacanho (provavelmente de fundo marxista), absolutamente incompatível com a ciência que ministra. Ora, se a “ilegalidade do aborto” não é compatível com o Estado laico, então, por uma questão de lógica, a “ilegalidade da pena de morte” também não é compatível com ele. Se a vida de um bebê inocente não importa ao Estado e ele não se intromete na decisão materna de abortá-lo, por que a vida de um assassino serial de crianças deveria interessá-lo, a ponto de ele prender cidadãos de bem para impedir seu linchamento? O Estado laico ideal de Débora Diniz é uma selva hobbesiana — mata quem pode, vive quem escapa. A se crer na vã filosofia da doutora antropóloga, o Estado laico é indiferente à vida e à morte — esses caprichos religiosos da Igreja Católica. O juiz José Guilherme de Souza, que votou com o relator pela condenação do Movimento Pró-Vida, também parece acreditar nisso, porque, depois de afirmar que a condenação do padre Lodi tem um “valor propedêutico” e um “valor epistemológico”, acrescenta: “É importante lembrar que, — e nesse patamar socorro-me da expressão utilizada com muita felicidade pelo juiz Teófilo Caetano, — estamos diante de um caso de intolerância religiosa em pleno século XXI, em pleno ano 2005”. Pelas barbas de São Marx! A que ponto chegou a inversão de valores neste país de Lula! Um magistrado considera “intolerância religiosa” a defesa da vida. Ora, senhor juiz, como o senhor classificaria a violência com que a esquerda é contra a pena de morte, a prisão perpétua e a redução da maioridade penal, — em nome dos direitos humanos de assassinos seriais, — xingando de nazista todos aqueles que não compartilham dessa complacência hedionda com o crime? Eu mesmo, quantas vezes não sou xingado em cartas de leitores, no Jornal Opção, e telefonemas de ouvintes, na Rádio Interativa, pelo simples fato de defender penas mais duras contra bandidos? A intolerância atéia da esquerda, senhor juiz, é tão selvagem que, graças a ela, a população brasileira foi obrigada a participar de uma farsa caríssima chamada Referendo do Desarmamento, sem saber que já tinha sido desarmada em favor dos bandidos muito antes desse plebiscito. Prova incontestável disso é que, mesmo o povo tendo votado pelo não nesse estelionato cívico, uma idosa de 67 anos está correndo o risco de ser presa por ter atirado num bandido que tentou assaltá-la. De acordo com a lei aprovada pelos tolerantes marxistas dos direitos humanos, um bandido pode gozar de todos os feriados nacionais para visitar supostos parentes e assaltar velhinhas, mas a velhinha não pode reagir — porque, caso escape de pagar com a vida nas mãos do bandido, pagará com a liberdade nas garras do Estado. Mas o juiz prossegue em sua intolerância reversa, praticamente assinando embaixo da antropologia primária de Débora Diniz: “Os tempos modernos não se compactuam, não se compadecem com esse tipo de atitude, porque já saímos do medievo, já saímos do Renascimento, do Barroco, já escapamos da Santa Inquisição. Hoje, a manifestação de qualquer tipo de intolerância religiosa é algo extremamente entristecedor para o espírito humano”. O magistrado chega a citar um conceito em desuso nas ciências humanas (o de “aparelho ideológico de Estado”) desde que seu autor, o filósofo franco-argelino Louis Althusser (1918-1990), estrangulou a mulher e escreveu um livro se confessando praticamente um estelionatário intelectual, que criou teses a partir de Marx mesmo sem tê-lo lido. Afirma o juiz Guilherme de Souza: “A religião é uma doutrina, uma tese, mas a Igreja, enquanto entidade, é um aparelho ideológico de Estado e, nessa condição, tal como as escolas, sindicatos, partidos políticos e tantos outros aparelhos ideológicos de Estado que orbitam em torno da sua esfera, já não tem e não pode ter a intervenção, ingerência ou intromissão que em tempos idos tinha, quando qualquer rei, monarca ou imperador não tomava decisões de Estado sem consultar a Igreja”. Ora, senhor juiz, qualquer manual de antropologia (exceto aqueles em que Débora Diniz se tornou doutora) ensina que a religião não pode ser reduzida a uma mera “doutrina”, a uma simples “tese”, a um estreito “aparelho ideológico de Estado”. A religião é antes de tudo uma instituição humana, milenarmente anterior ao próprio cristianismo, e sua interferência não apenas no Estado, mas na vida de toda a sociedade, é um fato incontestável, até mesmo inevitável. Enquanto o homem não tiver explicações definitivas sobre a origem e o fim da vida (o que a ciência está muitíssimo longe de oferecer), ele continuará tentando entender por que existe o universo e não o nada — e, aí, como já ensinava o filósofo ateu Bertrand Russel (1872-1970), entra a autoridade da religião, que não é menos respeitável do que a autoridade da ciência. No que parece não concordar o magistrado, porque ele chega a classificar como “infeliz conduta” do Movimento Pró-Vida a “intolerância manifestada em face de uma professora, de uma antropóloga que tem, inclusive, respeitável título de pós-doutora”. Mas ao contrário do que pensa o juiz, a atitude combativa do padre Lodi seria muito mais condenável se ela se manifestasse contra uma empregada analfabeta e humilde, sem argumentos para se defender de suas catilinárias. Esta, sim, precisaria da proteção judicial, não a antropóloga Débora Diniz, que não precisava recorrer à censura contra o padre Lodi, porque seu pós-doutorado deveria servir-lhe ao menos para argumentar em defesa de suas teses.

Na verdade, o pós-doutorado de Débora Diniz não é atenuante, mas agravante. Fosse eu juiz e achasse necessário complementar o trabalho do advogado de defesa da antropóloga (como fizeram dois dos três magistrados que julgaram o caso), eu absolveria o padre Lodi justamente com base no pós-doutorado da professora. Esse pós-doutorado confere à antropóloga armas mais poderosas do que a do padre. Se ele dispõe de fiéis para ouvi-lo xingá-la de “antropóloga abortista”, ela dispõe de alunos para ouvi-la tachá-lo de “padre reacionário”. E com um atenuante em favor do padre e um agravante contra a antropóloga: os fiéis que lêem e ouvem Luiz Lodi constituem um público voluntário, que abraça livremente a fé católica e pode trocar de igreja se não gostar do padre; já os alunos que lêem e ouvem Débora Diniz perfazem um público compulsório, obrigado a se sujeitar à exigência do diploma e impossibilitado de trocar de professor se não gostar de suas aulas. Fiz uma graduação em jornalismo e um mestrado em sociologia, senhor juiz, e já me cansei de ouvir e ler professores supostamente iluministas chamando religiosos como o padre Lodi de “fanáticos”, “reacionários”, “inquisidores”, “nazistas”, sem apresentar um só argumento para alicerçar essas críticas. A maioria, por sinal, seria incapaz de sustentar um debate, por escrito, contra o padre Luiz Carlos Lodi, que pensa e escreve muito melhor do que a maioria dos professores universitários brasileiros. O padre Lodi não precisa ser neutro; mas Débora Diniz tem a obrigação de ser imparcial. Só lhe é dado defender cientificamente o aborto, se na mesma aula ou na mesma apostila em que fizer essa defesa, ela abrir espaço para o contraditório — a defesa científica da vida. Ou, por acaso, só a fé religiosa defende a vida, cabendo à racionalidade científica a defesa da morte? Se Geraldo Alckmin fosse de fato da Opus Dei, — mas, infelizmente, não é, — ele deveria fazer essa pergunta para Lula nos debates. Lula pode ser — e, provavelmente, é — o antípoda da razão, mas seu partido, o PT, encarna a racionalidade científica vigente no país, tanto que os intelectuais tucanos, como Fernando Henrique Cardoso, José Arthur Giannotti ou Luiz Carlos Bresser Pereira, não conseguem ir intelectualmente muito além dos intelectuais petistas como Antônio Cândido, Marilena Chauí ou Francisco de Oliveira. Por isso, o programa de governo de Geraldo Alckmin é exatamente o mesmo programa de governo de Lula da Silva, diferenciando-se mais no estilo do que no conteúdo. A exemplo do PT de Lula, o PSDB de Alckmin também professa a inversão de valores promovida pela esquerda e, no seu programa, propõe: “Impor medidas de respeito ao exercício da livre opção de comportamento individual, corolário da convivência democrática, que conduz à plena aceitação da diversidade de orientação sexual” [grifo meu]. Como se vê, o PT é mais explícito e propõe logo a descriminalização da morte de crianças e a criminalização de críticas a travestis. Trata-se do combate à homofobia — uma palavra de ordem do Movimento Gay que os intelectuais de esquerda transformaram em conceito científico e o segundo governo Lula pretende impor como norma penal. Desde a Constituição de 88 (muito mais socialista do que liberal), a esquerda vem transformando o Brasil imperceptivelmente: às vezes, pelo golpe do voto; outras vezes, pelo golpe da lei. (O excesso de processos contra críticos do PT, como mostram as fotos ilustrativas deste artigo são um exemplo do segundo caso.) Ao reduzir democracia a eleição, impondo seu conceito de “democracia participativa”, que nada mais é do que embrião do totalitarismo, a esquerda desmoralizou as instituições. A começar pelos Três Poderes da República, — Executivo, Legislativo e Judiciário, — que, no campo dos costumes, têm trabalhado contra a população. Políticos, promotores e juízes se esquecem que seu dever não é tutelar a nação, mas expressá-la. Catequizados pelo obscurantismo marxista, que aposta na ética do conflito, com vistas à revolução, eles se arvoram a elaborar e aplicar leis supostamente avançadas, achando que com isso melhoram a sociedade brasileira. E, como a cultura moderna substituiu o ideal grego do sublime pelo cinismo francês do grotesco, hoje, como diria Caetano Veloso, “o mal é bom e o bem, cruel”. Como as leis do Estado derivam dos valores da cultura (e não o contrário, como parece pensar Débora Diniz), o Brasil, ao professar esses valores amorais importados da França, fatalmente haveria de se tornar essa República de Bandidos que se vê hoje, em que a maioria das leis é feita para beneficiar criminosos. Os promotores e juízes que fingem não ver a inconstitucionalidade dessas leis supostamente avançadas e as defendem em artigos e entrevistas moram, geralmente, em condomínios fechados e passam férias em Paris. Ocupados em ostentar o Brasil virtual que essas leis almejam, mal têm tempo para a amargar o Brasil real onde elas se aplicam. Se a ciência política fosse uma zoologia moral, eu diria que, em qualquer país do mundo, o povo é um jumento e sua elite, o almocreve. O que diferencia o Brasil dos países desenvolvidos é que, neles, a lei é uma sela que a elite ajusta ao lombo do jumento. No Brasil, a lei é o cabresto com que a elite tenta puxá-lo. Mas, como se sabe, o jumento empaca e, aí, já não se sabe quem puxa quem.


http://www.jornalopcao.com.br/index.asp?secao=Manchete&idjornal=208


Jornal Opção - On-line, edição n. 208 (de 22 a 28 de outubro de 2006)

http://www.jornalopcao.com.br/index.asp?idjornal=208&subsecao=OJornal

Edições Anteriores - http://www.jornalopcao.com.br/index.asp?secao=Anteriores&subsecao=OJornal&idjornal=208

http://www.jornalopcao.com.br

No comments: